Atos Inconstitucionais
Em seu livro, “1968 O ano que não terminou” Zuenir Ventura faz uma emocionante reconstituição desde o reveillon de 1967 até o ultimo mês do ano de 1968, quando, no dia 13 de dezembro, numa sexta-feira, o foi editado o Ato Institucional nº 5, mais conhecido como AI-5. Contudo, a obra não se restringe a esse fato: contextualiza-o numa época de heróis e de carrascos, de seus dramas e paixões, de suas lutas, suas vitórias, suas derrotas. Não se trata, exatamente, de um livro de história. É na verdade, um romance não-ficção que chama o leitor de volta para aquela época num relato muito bem contextualizado, apaixonante de se ler. Seria também o retrato de uma geração que, como no resto do mundo, queria fazer uma revolução em todos os sentidos, mas que, pelo menos aqui, não conseguiu mais do que uma revolução cultural.
A partir de uma significante festa de reveillon do ano anterior, Zuenir mostra como, desde as primeiras horas de seu nascimento, o ano 1968 já se fazia bastante diferenciado e marcado por audaciosas experimentações, tanto na política exacerbada, tendendo completamente para o lado da ditadura firme e de rédeas curtas, como no comportamento marcante.
Testemunha e participante daqueles tempos de exaltação, o autor, dono de um texto envolvente, faz relatos emocionantes sobre como funcionavam e agiam o PCB, as organizações (UNE, UME, e muitas outras) e as rebeldias contra a ditadura dos estudantes. Tratou ainda do movimento dos intelectuais (artistas, cantores, compositores, cineastas) e, é claro, falou sobre a tão esperada e conturbada reunião onde foi aprovada o famoso AI-5 (com conteúdo de gravações até então inéditas ao público). Além disso, recria-se no livro o ambiente dos principais acontecimentos do ano, com alto grau de detalhismo e uma boa dose de precisão. Incluem-se em suas linhas as passeatas realizadas, o assassinato do estudante Édson Luís, a Sexta-feira Sangrenta, a Marcha os Cem Mil e o XXX Congresso da UNE em Ibiúna(SP).
Acima de tudo, Zuenir quer mostrar que a história de 1968 não termina aí. Ela, na verdade, começa. A reunião para a formação do AI-5, e o desenrolar dos acontecimentos políticos, culturais e sociais do período, por conta dele, durou dez anos. Muito mais do que os cinco ou seis meses previstos pelo Presidente Costa e Silva. Seus efeitos mudaram gerações, a de então e as que viriam. Essa sexta-feira 13 provou ter muito mais repercussão do que jamais se foi falado na história brasileira.